quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Últimas curtinhas do ano

O final desse ano está sendo um tanto complicado e como não vou ter tempo de postar mais nada até o final do ano, aqui vão umas curtinhas com alguns filmes que vi recentemente. Espero que todos tenham tido um ótimo Natal e aproveito para desejar um Feliz 2008 para todos, com muita paz saúdes e bons filmes.


Jogo de Cena (Idem, Brasil, 2007)
Dir: Eduardo Coutinho


2007 já está acabando mas ainda deu tempo para eu assistir ao melhor filme do ano. Isso mesmo, Jogo de Cena é uma experiência alternativa e renovadora, coisa pouco vista no cinema nacional e me surpreendeu por manter um nível sempre alto misturando realidade e ficção de forma incrível. Me pegou de jeito. Dentro de um teatro, Coutinho reuniu algumas a fim de contar as suas histórias e que posteriormente são interpretadas por atrizes. Em alguns casos, fica claro quem é a atriz e quem é a pessoa na vida real, mas a linha que as separa vai se tornando cada vez mais tênue e até inexistente. Todas as histórias me interessaram e do riso às lágrimas são todas cheias de verdade e emoção. Mais interessante é quando as próprias atrizes são expostas nos seus anseios, dúvidas e opiniões. Afinal, no cinema, onde termina a realidade e começa a ficção?

Planeta Terror (Planet Terror, EUA, 2007)
Dir: Robert Rodriguez


Planeta Terror é um curioso filme de gênero. Na verdade, é um filme-homenagem que não tem a menor vergonha de se assumir trash. Faz parte do conhecido projeto Grindhouse composto ainda pelo À Prova de Morte do mestre Tarantino (que não vi). É a famosa história de zumbis que começam a aterrorizar uma cidade enquanto algumas pessoas se juntam para se salvar. Inclua aí personagens bizarros (como a mulher com uma metralhadora no lugar de uma perna que desde o trailer me deixou fascinado), o absurdo da maioria das cenas, por vezes engraçadas, e o gosto pelo gore e o grotesco que dão charme ao filme. Ora, é um filme B com gosto de coisa antiga, revelada pela “arranhura” da imagem ou quando propositalmente o filme sofre um corte brusco quando uma “bobina” falta à película. Uma divertida brincadeira de diretor-cinéfilo, acompanhada por um ótimo texto (que em alguns momentos lembra um pouco o Tarantino) e por boas atuações, além de uma trilha sonora que nos faz entrar no clima de todo aquele absurdo.

Lady Vingança (Chinjeolhan Geumjasshi, Coréia do Sul, 2005)
Dir: Park Chan-wook


Mesmo com um três estrelas, me decepcionei muito com esse filme pois por se tratar de uma trilogia formado pelo ótimo Senhor Vingança e pela obra-prima que é Oldboy, achei que o última parte manteria o nível dos anteriores. Uma das coisas que me agradam no projeto é que cada filme possui uma atmosfera diferente, ele nunca repete a fórmula. Nesse aqui existe um tom de comédia por traz do drama da jovem que vai parar na prisão para proteger o namorado, real responsável pelo seqüestro e morte de um garoto de 6 anos pelo qual ela é acusada, e volta para se vingar do cara depois que descobre sua traição. Park Chan-wook sabe criar belas cenas e também um ótimo clima, mas aqui pareceu mais exercício de estilo. O filme parece prometer um embate mais forte entre a protagonista e seu algoz, algo que se mostra bem fraco com um final bastante insatisfatório. Pastelão até. E eu esperei tanto por esse filme...

Lady Chatterley (Idem, França/Bélgica/Inglaterra, 2006)
Dir: Pascale Ferran


Tomei conhecimento acerca desse filme há pouco tempo e eis que surgiu uma inesperada oportunidade de vê-lo. Depois de quase três horas de projeção, sai da sala com a alma lavada. Adaptado do livro O Amante de Laddy Chatterley escrito por D. H. Lawrence em 1928, e que escandalizou a época por conter um retrato erotizado da conservadora sociedade burguesa britânica, sendo logo proibido de circular. Com o marido paraplégico, a aristocrática Constance Chatterley começa a se envolver com o guarda-caças da propriedade, encontrando no prazer sexual uma forma de livrar das convenções sociais. No entanto, o sexo é aqui tratado não como aperitivo para aquela situação, mas como a principal forma de realização daqueles personagens, despido de qualquer moralismo. Sendo assim, nunca soa forçado, mesmo nas cenas em que o êxtase se estampa na face dos personagens. A história possui uma fluidez incrível, tanto pela qualidade do texto original, mas também pela luminosa presença de Marina Hands vivendo a protagonista.

O Preço da Coragem (A Mighty Heart, EUA/Inglaterra, 2007)
Dir: Michael Winterbotton


Depois da decepção para mim que foi 9 Canções, o Winterbottom retoma o cinema político que tão bem sabe fazer. A história real do jornalista Daniel Pearl que, trabalhando para o Wall Street Journal no Paquistão, é seqüestrado enquanto tenta uma entrevista com um líder terrorista ganha contornos documentais com a câmera frenética do diretor. Mas o filme pertence mesmo a Angelina Jolie que, ao viver a esposa de Pearl, também uma jornalista, faz de tudo para encontrar o marido (o filme é baseado no livro que a verdadeira Marianne Pearl escreveu sobre a morte de seu companheiro). A partir do momento que ele é dado como desaparecido, começa uma busca angustiante por um sinal de onde ele esteja. Triste, mas um pequeno retrato das tensões que assolam o Oriente Médio, a relação de poder entre os países e o sofrimento de inocentes.

Império dos Sonhos (Inland Empire, França, 2005)
Dir: David Lynch


Não esperava por um filme fácil, por isso deu pra aproveitar bem a viagem proposta pelo sempre provocar David Lynch. Uma atriz que ao conseguir um papel de destaque em Hollywood começa a confundir a sua própria vida com a de sua personagem. Talvez isso seja o máximo que eu posso dizer, pois o resto são divagações de uma mente (um mundo, talvez?) caótica e perturbada, como se o filme tivesse enlouquecido por completo. Mas Lynch é mestre em brincar com as nossas sensações e, para isso, se aproveita das possibilidades que a linguagem cinematográfica oferece. A única certeza que tenho em relação à obra é que preciso revê-la. E que poucas vezes num mesmo filme uma atriz conseguiu passear da total alegria até o mais puro estado de sofrimento com tanta maestria. Absurda.

O Passado (El Pasado, Argentina/Brasil, 2007)
Dir: Hector Babenco


Pouco conheço da obra do argentino naturalizado brasileiro Hector Babenco, e a depender do fraco desempenho de seu Carandiru, não me alegrava muito por seus filmes. Mas eis que com esse O Passado, filmado em sua terra natal, me admirei com seu talento para contar uma narrativa fluida e ao mesmo tempo complexa. Acompanhamos a tumultuada trajetória de Rímini (Gael García Bernal, um pouco apagada, como sugere seu personagem) que acaba se acaba tornando vítima das mulheres com quem se envolve. Principalmente de Sofia (Anália Couceyro, numa assustadora atuação), com a qual foi casado por 12 anos. Me agrada muito o fato do Babenco confiar na inteligência do público para que se possa compreender as reviravoltas da trama e também para se identificar com aquele personagem errante.

Viagem a Darjeeling (The Darjeeling Limited, EUA, 2007)
Wes Anderson


Adoro o cinema do Wes Anderson. Gostei muito de Os Excêntricos Tennembaums quando vi e a atmosfera estranha de A Vida Marinha com Steve Zissou cria um efeito legal ao filme. Mas não consegui engolir seu mais novo trabalho. Anderson é mestre em criar belas seqüências com movimentos de câmera sutis ao mesmo tempo em que se alia a um texto afiado e gostosíssimo. Mas vai chegando um momento nesse filme em que nos perguntamos o porquê de tudo aquilo e não encontramos resposta. Fica parecendo mais exibicionismo do tipo “olha o que eu sei fazer com a câmera”. A história dos irmãos que se reúnem numa viagem à Índia para visitar a mãe depois de passado um ano da morte do pai poderia ser bem mais explorada. Muita coisa fica no ar. Salva a presença do trio de atores (Adrien Brody, Jason Schartzman, Owen Wilson) uma direção de arte caprichada e uma música bonitinha. Continuando desse jeito, o diretor vai acabar perdendo seus fãs. Estilo ele já tem, falta aliar isso a uma história que diga a que veio.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Ranking da Mostra

Os melhores filmes da Mostra em ordem de preferência, com a cotação em estrelas ao lado:


O Céu de Suely – 5
Cão Sem Dono – 4,5
Estamira – 4,5
O Cheiro do Ralo – 4,5
Saneamento Básico – O Filme – 4
Pro Dia Nascer Feliz – 4
O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias - 4
Fabricando Tom Zé – 3,5
Cartola – Música para os Olhos – 3,5
Eu Me Lembro – 3
Diário de Sintra – 3
Batismo de Sangue – 3
Baixio das Bestas – 2
Deserto Feliz – 1,5

Não tenho condições aqui de catalogar os curtas-metragens vistos (embora tenham sido poucos). Mas gostaria de destacar a animação cearense Vida Maria que num único plano-sequência emociona bastante.

Os que faltavam

Por sérios problemas de saúde na família, estive um tempo ausente do blog, eu sei. E acabou que nem deu tempo de falar sobres os filmes que encerraram o último dia da Mostra Cinema Conquista. Mas eu preciso atualizar isso aqui, mesmo estando fora de casa, até como forma de não ficar parado. Então, aos filmes:

Fabricando Tom Zé (SP/BR, 2006)
Dir: Décio Matos Jr.


Faz um tempo que eu vi o trailer desse documentário e me deu muita gana de ver o filme. Sinto que Tom Zé é uma das pérolas da nossa música e eu preciso muito descobri-lo. Pois o filme reforça bastante essa vontade ao apresentar não só o tipo de som que o cara produz, mas também sua personalidade marcada pela irreverência, inteligência e ousadia.

O filme, no entanto, parece ser mais uma forma de promoção da obra de Tom Zé, reverenciando a todo o momento o trabalho dele. Mesmo assim, não se nega a discutir o problema que o musico teve com o movimento tropicalista (uma rejeição, praticamente) e o fato dele ter sido esquecido por um bom tempo no país. Mas quando o cantor e produtor norte-americano David Byrne lançou a obra desse baiano de Irará no exterior, os gringos gostaram e o abraçaram. Hoje, Tom Zé é mais um de nossos artistas que fazem mais sucesso fora do que em seu próprio país.

Deserto Feliz (PE/BR, 2007)
Dir: Paulo Caldas


Infelizmente o filme que encerrou a Mostra Cinema Conquista não foi dos mais satisfatórios (o pior dos que vi nessa Mostra). O filme narra a história de Jéssica (Nash Laila, em sua estréia no cinema) que, estuprada pelo padrasto, foge para o Recife onde se torna prostituta. Lá conhece um turista alemão (Peter Ketnath, de Cinema Aspirinas e Urubus) que pode significar uma esperança em sua vida.

Me agrada no filme a forma como a história muda de foco e só percebemos isso através da ação dos personagens; pouca coisa é verbalizada como já era de se esperar naquele ambiente tão árido e duro. Porém, o filme se mostra um tanto batido cm uma trama já bastante explorada e acaba, por não trazer nada de significativo, caindo num vazio narrativo. É praticamente um filme-clichê. E há ainda uma irritante tentativa do diretor de parecer cult ou descolado ao abusar de longos planos de câmera na mão, ou câmera subjetiva, que não possuem importância alguma para a história. Enfim, bola fora.