domingo, 14 de julho de 2013

Programa de índio

O Cavaleiro Solitário (The Lone Ranger, EUA, 2013)
Dir: Gore Verbinski


Um garoto entra num museu e, diante de um boneco que representa um índio apache, vê esse mesmo boneco ganhando vida. Ninguém mais no museu parece se dar conta daquela estranheza, só o garoto, que vai ouvir toda a história de como o índio desgarrado Tonto (Johnny Depp) uniu-se ao promotor John Reid (Armie Hammer) para caçar um fora da lei e seu bando pela região árida do velho oeste americano.

Essa desfaçatez narrativa, quase uma abordagem fantasiosa para um filme que trabalha o humor negro e a crendice como algo fabular, é uma abordagem ideal para a construção de uma espécie de mito, o cavaleiro solitário, justiceiro supostamente renascidos do reino dos mortos, posição que será assumida por John. Sendo assim, O Cavaleiro Solitário começa muito bem enquanto proposta, já injetando doses muito boas de adrenalina, na base da inverossimilhança que tão bem faz aos filmes de super-heróis.

Mas a megalomania da produção toma conta do filme quando as tramas começam a se alongar, aumentando a quantidade e proporção das situações, sempre em busca de algo mais grandiloquente, e os personagens começam a ter mais conflitos. O interesse amoroso de John pela cunhada (Ruth Wilson) soa mais como distração ou a necessidade de um interesse amoroso na história; a introdução de um segundo vilão na parte final (vivido caricaturalmente por Tom Wilkinson) parece dispensável, assim como a personagem da cafetina interpretada por Helena Bonham Carter, uma pistola no salto de sua bota soando como um super detalhe descolado, mas sem serventia na trama.

A partir daí o longa parece não acabar nunca. É um filme balofo, que parece se retroalimentar, enquanto a fruição vai se tornando cansativa, apesar da adrenalina do todo. O Cavaleiro Solitário é o típico “frankenfilm”, espécie de produto do mercado hollywoodiano altamente controlado por estúdios, com muita gente dando pitaco (roteiro feito a seis mãos), composto por uma série de lugares comuns daquilo que se imagina que faz sucesso e atrai o grande público nessa alta temporada. Um objeto formatado para ser bom, mas que acaba soando disforme, ineficiente. Consequência disso é o mau resultado nas bilheterias.


O filme esforça-se para criar uma ambientação hype no quesito western, com personagens superestilizados e paisagens imponentes. Coisas grandiosas que explodem e/ou que andam a toda velocidade também são muito bem-vindas nessa trama que não pode parar um só minuto. Tudo que envolve o personagem de Depp, incluso aí sua velha interpretação do cara esquisito-altista, parece ter um sentido cômico, para além do pretenso misticismo da cultura indígena que ronda sua persona. Mais um ingrediente para engrossar o caldo da busca por um público que quer ser entretido. 

Até agora não sei por que o cavaleiro vivido por John é solitário, como aponta o título, se o tempo todo ele tem a companhia do índio Tonto. Esse é o tipo de incongruência que faz o filme mais um produto descartável de mercado, trazendo gravada a marca Disney, essa máquina de entretenimento que nem sempre faz coisas certinhas, e nem sempre acerta.

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