terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Mar de excessos

Êxodo: Deuses e Reis (Exodus: Gods and Kings, EUA/Reino Unido/Espanha, 2014)
Dir: Ridley Scott



Êxodo: Deuses e Reis é o tipo de filme em que a palavra “ÉPICO” precisa estar subentendida como maiúscula, estampada nas cenas como chamariz principal. Não é algo novo – Cecil B. DeMille fazia a mesma coisa antes no sistema hollywoodiano, apropriando-se das histórias de cunho religioso para torná-las espetaculosas, inclusive já tendo contato a história bíblica de Moisés em Os Dez Mandamentos.

O personagem retoma agora como herói destemido, num processo que o leva à liderança do povo hebreu que sofre como escravo no antigo Egito. No filme, Moisés (Christian Bale) aparece primeiramente como general e braço de confiança do faraó Seti (John Turturro), também confidente do príncipe herdeiro Ramsés (Joel Edgerton). Quando descobre sua origem hebraica, Moisés passa, aos poucos, a tomar partido de seu povo diante dos desmandos do império egípcio.

Talvez estejam aí os melhores momentos do filme, ensaiando os embates que perdurarão na obra. A relação de Moisés com Ramsés ganha contornos mais dramáticos, assim como o protagonista também questiona cada vez mais a ordem divina. Porém, ao se dedicar tanto aos conflitos internos do protagonista diante do papel heroico que lhe parece destinado, o roteiro, escrito a oito mãos, torna-se enfadonho por se demorar nesses embates.

Mereciam um caminho mais conciso, mas prefere-se estender cada vez mais uma resolução não tão complexa assim, e já bastante conhecida por aí. É o mesmo tipo de gordura que existe no recente Noé, de Aronofsky, mas ali parece haver uma concisão maior que funciona no interior do filme, ajudado a criar certa tensão, mesmo que algumas soluções sejam dispensáveis.

Dificulta também aqui o fato de existir um esforço evidente para que a história não pareça tão bíblica assim, entregue a uma ordem de viés religioso na sua construção. Scott prefere dar um ar mais pomposo e realista para algo que possui um fundo fortemente alegórico. Manipula-se o texto religioso/histórico para que soa sempre muito espetacular e grandioso, o que não poderia ser muito diferente nesse tipo de produto.

Vale a pena, no entanto, destacar o bom uso do 3D, que não chama atenção para si, valorizando a profundidade de campo, ajudado pelo portentoso dos monumentos e cenários do antigo Egito. Funciona mesmo como uma imersão, na maior parte do tempo, a uma tridimensionalidade que, uma pena, não aparece também na história que conta. Êxodo: Deuses e Reis acaba sendo mais cansativo do que prazeroso no seu conceito épico.

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