segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Impressão de vida

Boyhood – Da Infância à Juventude (Boyhood, EUA, 2014)
Dir: Richard Linklater



É realmente uma experiência muito agradável acompanhar o desabrochar da infância e juventude de um personagem em crescimento num filme realizado ao longo de 12 anos. Um mesmo ator empresta seu desenvolvimento físico a um garoto retratado nas fases iniciais da vida – ali onde se forma seu caráter.

Daí que Boyhood – Da Infância à Juventude torna-se um filme sem par na produção atual, ao mesmo tempo ideia simples e “grandiosa” nas suas pretensões, além de bem executada. O mais próximo que se chega a esse espírito de tempo em fluxo no cinema está no trabalho desenvolvido pelo próprio Richard Linklater na trilogia formada por Antes do Amanhecer, Antes do Pôr-do-Sol e Antes da Meia-Noite: vemos o desenrolar de um romance e as perspectivas de vida do casal Jesse e Julie com o passar dos anos, homem e mulher em formação.

O charme (e talvez risco) de Boyhood esteja na vivacidade com que se conta essa história de gente comum sem fazer alarde. Mason (Ellar Coltrane) começa como um garotinho que vive com a mãe (Patricia Arquette) divorciada do pai (Ethan Hawke) e tem uma irmã mais nova (Lorelei Linklater). Brinca e frequenta a escola com os amigos do bairro. Não há nada de necessariamente extraordinário na sua trajetória.

A menos que pensemos na vida de todo dia, a nossa vida cotidiana, como algo cheio de possibilidades, riscos e aprendizados. Por trás da aparente banalidade das ações de seus personagens, Boyhood faz ver que é nas pequenas coisas, alegrias e decepções, que se encontram as chaves de formação de um indivíduo social.


Os rumos que a vida de Mason seguirá são pontuados pelas experiências e o contato com aqueles que estão a seu redor e fazer parte de sua rotina (ainda que por pouco tempo, como os padrastos com quem ele vai conviver).
Boyhood pega emprestado a trajetória desse garoto para construir a impressão de vida real transcorrendo na tela.

Pode não ser algo de tão excepcional assim, mas é louvável ver um filme que de longe pareça tão “banal” ganhando dimensões maiores à medida que se pensa nele (ou o sentimos). Também porque Linklater mantém uma direção segura do início ao fim (e devemos pensar que são 12 anos segurando a onda), ainda que a ideia seja soar o mais objetivo e clássico, sem perfumaria. Nem combinaria com a história que quer contar. Os diálogos naturalíssimos (e um elenco que entende muito bem o que isso significa para o sucesso do projeto) só reforçam o conceito concreto do todo. 

É certo que Boyhood tenha conquistado muita gente por essas suas qualidades. Pareceria um tanto exagerada tanta adoração em torno do longa (é o filme a se bater na temporada de premiações), mas entende-se que é justamente nesses trabalhos menos óbvios que a força do bom cinema revela-se, tocando as pessoas sem nenhum tipo de apelação dramática. Boyhood é um filme vivo.

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