Sem
Título #2: La Mer Larme (Idem, Brasil, 2015)
Direção:
Carlos Adriano
Carlos
Adriano continua sua investida por um cinema poético-biográfico enquanto faz
alguns ensaios em forma de filme que parece dizer muito sobre ele em momento
específico de vida – naquilo que ele próprio intitula de “apontamentos para uma
AutoCineBiografia (em Regresso)”.
A
série “Sem Título” já está na sua terceira investida, depois de um primeiro curtíssimo
e inusitado ensaio, seguido de um terceiro mais verborrágico. São filmes muito
particulares porque remetem a uma figura recorrente: um velhinho sorridente que
aparece em flash nos filmes. Trata-se
de Bernardo Vorobow, ex-companheiro de Carlos Adriano, falecido há pouco tempo.
São filmes memoralísticos, mas nunca óbvios.
Aqui
o mar é figura recorrente, mais a música “La Mer”, composição francesa de
Charles Trénet. O cineasta reúne uma série de imagens antigas de mares,
extraídos de filmes dos primórdios do cinema, e uma série de versões dessa
mesma composição musical e as rearranja de modo muito fragmentado, inventivo. É
como um videoclipe estendido de saudade e celebração, nunca de pesar e tristeza
– como já não era em Sem Título #1.
Há
uma proposta clara de reiteração e reapresentação desses pedaços de imagens e
sons, picotados e resgatados no tempo, e que certamente devem fazer muito
sentido para o diretor, porém que nem sempre encanta as plateias. O filme
carrega na duração – são 31 minutos desse dispositivo narrativo em looping – que parece mesmo ter o objetivo
de alcançar um paroxismo perigoso.
Feito
por um cineasta cuja persona é muito curiosa e sempre muito próximo do experimental
e da inquietação, Sem Título #2: La Mer Larme pode deixar de ser visto como um mero capricho para poder se encarado
como mais uma forma de representação de saudade e celebração de uma vida que pulsou
ali perto – e um dos ícones que se repetem no filme é um coração
bombeando sangue, fruto de uma radiografia de Vorobow que morreu por
complicações cardíacas.
Há
sentido nessas imagens, mesmo na sua aleatoriedade e insistência, assim como há
uma emoção. No entanto esta corre o risco de se perder pela necessidade de reinvenção.
O filme anterior da série, por exemplo, não passava de dez minutos e tinha a
mesma leveza, lançando mão do mesmo arranjo cinematográfico – Fred Astaire e Ginger
Rogers bailando ao som de um fado alegre. Na tentativa de não se repetir aqui,
Carlos Adriano mais afasta do que aproxima.
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