sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Síndrome épica

O Hobbit: A Desolação de Smaug (The Hobbit: The Desolation of Smaug, EUA, 2013)
Dir: Peter Jackson




É inegável que Peter Jackson seja o cineasta ideal para conduzir essa história. Não só pelo talento em conduzir narrativas épicas, mas a própria familiaridade com o universo da Terra Média idealizada por J. R. R. Tolkien, já devidamente atestada nos filmes anteriores que ele levou adiante. Mas isso nem sempre é uma vantagem.

Se parece muito comum que a máquina hollywoodiana de fazer dinheiro tente se aproveitar ao máximo para criar franquias longevas, capazes de levar mais gente aos cinemas (e muitos fãs), em prolongamentos dos projetos originais, a questão aqui é que a megalomania parece vir do próprio Jackson. Daí que o diretor e seus produtores resolveram dividir em três (longos) filmes uma história que se resolveria com bem menos, tudo em prol de bilheterias fartas, é evidente.

Bilbo (Martin Freeman) continua na companhia dos anões liderados por Thorin Escudo de Carvalho (Richard Armitage) e de Gandalf (Ian McKellen) na tentativa de recuperar a fortaleza de Erebor, na Montanha Solitária, antigo lar dos anões, agora dominada pelo temido dragão Smaug, que também se apoderou de toda a mina de ouro guardada pelos pequenos.

Nada contra o fato da mitologia d’O Hobbit ganhar ampliações e conexões com a saga d’O Senhor dos Aneis, uma vez que isso já estava presente no primeiro filme dessa nova etapa da série. Mas é chato quando percebemos certas correlações forçadas com a trilogia anterior. O arco dramático que envolve Thorin, por exemplo, não passa de um mero repeteco daquele em torno de Aragorn (Viggo Mortensen), uma vez que seu papel como rei herdeiro do trono dos dragões ganha destaque na narrativa como um novo propósito a alcançar; um novo retorno do Rei, portanto, espera o espectador no próximo filme.

É quase como se não pudéssemos mais enxergar as duas séries como projetos distintos. Mais que tudo, O Hobbit seria uma história de teor infanto-juvenil em que o fator adrenalina e o tom aventuresco estão acima de questões mais profundas. O que esse segundo filme faz é enxertar uma atmosfera épica, vista anteriormente, a fim de torná-lo mais grandioso, e lucrativo.


Mas aí a coisa se torna mais complicada quando A Desolação de Smaug passa a enfrentar quebras de ritmo por conta da insistência em conectar as duas trilogias. E isso é sentido muito mais nesse longa. É como se as expectativas fossem, a todo instante, sendo sabotadas pelo próprio filme, o que acontece em vários momentos, especialmente nos caminhos percorridos por Gandalf. Ou quando o roteiro investe em subtramas desinteressantes, como o flerte entre a elfa Tauriel (Evangeline Lilly) e o anão Kili (Aidan Turner).

Mesmo no clímax da narrativa, o filme consegue desperdiçar grande parte de sua tensão quebrando a cadência rítmica ao montar a sequência paralelamente ao que acontece em um lugar próximo dali. Há bons momentos de aventura ao longo do todo, como a sequência da fuga na correnteza, ainda que repleta de pequenos problemas de desenvolvimento. Mas são constantes na obra as pausas narrativas para dar conta dos rumos de caprichos épicos que o projeto acabou tomando. 

O espetáculo visual também permanece lá, enchendo olhos e ouvidos, ainda que o velho problema de subaproveitamento do 3D persista, não acrescentando nada à narrativa, nem rendendo bons momentos. E assim a série O Hobbit vai se alongando para mais uma trama grandiloquente, deixando de lado um tom mais aventuresco, e nem por isso menos interessante, ser esmagado pela cobiça do épico.

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