quinta-feira, 29 de maio de 2014

Maquinaria anestésica

No Limite do Amanhã (Edge of Tomorrow, EUA/Austrália, 2014)
Dir: Doug Liman


Curioso que uma semana depois do lançamento de X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, outro filme padrão arrasa-quarteirões aproveite-se do artefato da viagem no tempo como mote principal da narrativa. Mas No Limite do Amanhã está interessado mesmo na busca desenfreada pela ação.

É como um anti-Godzilla já que o não piscar parece ser o principal objetivo a causar no espectador, um misto de entretenimento e anestesia, ainda que seja interessante acompanhar o funcionamento do dispositivo de volta no tempo. Não há tensão pré-ensaiada, nem mesmo quando o filme abre a narrativa com imagens reais de arquivos para apresentar esse mundo fora de ordem ameaçado por forças destrutivas alienígenas que precisam ser combatidas no campo de batalha.

Tom Cruise interpreta esse soldado que é jogado no front de guerra sem preparo e no primeiro confronto com os alienígenas volta no tempo antes de morrer. Em loop, ele seguirá retornando do mesmo ponto e vai precisar juntar forças com a super-soldado Rita, vivida por Emily Blunt. Dado importante é que os combatentes do futuro usam uma armadura acoplada ao corpo, incorporam literalmente uma estrutura de aço e tecnologia para tornarem-se máquinas de liquidar.

O pior de No Limite do Amanhã (e de muitos filmes do gênero) é que tudo se faz muito apressado. Aproveita-se pouco até mesmo da ação porque esta é desenfreada. Ao retrabalhar tantos elementos que já vimos em filmes semelhantes, mesmo que sob uma mistura diferenciada aqui, o longa mais cansa do que entretém de fato. Se reviravoltas em certos momentos tiram do marasmo uma narrativa fadada a se repetir, a busca sem freios por novas lógicas de funcionamento é ainda assim anódina. 

Cabe, por fim, um comentário à parte, mas que ajuda a entender a maquinaria por trás de produtos comerciais como esse. O filme faz alusão a um acontecimento histórico (o desembarcar na praia é uma clara referência ao Dia D, momento decisivo dos combates na II Guerra Mundial) para descartá-lo como elemento fundamental de uma história presente. As imagens documentais do início disfarçam essa ironia porque se misturam num novelo para criar a ilusão de um momento atual descartável, remodelável. Para salvar a Terra vale tudo, até mesmo implodir o Louvre sem uma gota de remorso, levando junto a História da humanidade que se preserva ali. O amanhã de Doug Liman joga fora o nosso passado para construir um futuro assegurado, embora sombrio de outras formas.
 

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