quarta-feira, 23 de julho de 2014

6º Paulínia Film Festival: Parte I



Não Pare na Pista: A Melhor História de Paulo Coelho
(Idem, Brasil/Espanha, 2014)
Dir: Daniel Augusto


O suntuoso Theatro Municipal Paulo Gracindo recebeu ontem a cerimônia de abertura da 6ª edição do Paulínia Film Festival. Uma pena que tenham escolhido um filme tão frágil narrativamente para abrir os trabalhos. Não Pare na Pista: A Melhor História de Paulo Coelho, na melhor das hipóteses, é uma cinebiografia careta, que está ali para pontuar os fatos marcantes da vida de uma personalidade.

Paulo Coelho carrega o sucesso de vendas de seus livros, tem o “peso” de ser um dos escritores brasileiros mais traduzidos no mundo (perde só para Shakespeare, como insiste em afirmar um letreiro no final), a despeito de muitos torcerem o nariz para o tipo de literatura que ele faz. Mas o filme desvia dessa polêmica como um bom chapa-branca e nem chega a fazer um esforço para tentar entender o porquê de todo esse sucesso de público (numa sequência o vemos escrevendo o manuscrito de um livro; corte em elipse e ele já recebe em casa o livro impresso e publicado).

Daí que, na pior das hipóteses, esse é um longa anódino, intercalando várias fases de sua trajetória anárquica e transgressora, aura que o filme busca conferir ao personagem. A fase mais jovem marca os embates de Paulo (Ravel Andrade) com a família, especialmente com o pai linha dura, enquanto ele já sonha em se tornar um escritor. Júlio Andrade interpreta um momento intermediário em que Coelho busca novas experiências, com drogas ou viagens transcendentais espiritualistas. Há ainda o Paulo atual (Andrade de novo, sob maquiagem pesada), ranzinza, mas ainda dono de um espírito “libertário”.

É visível todo um cuidado de produção muito grande, em especial fotografia “arrojada”, que marca presença forte no filme como fator estético que salta aos olhos. Porém, esse exagero no visual só reforça a artificialidade de imagens que não se sustentam em conjunto na narrativa.

Estão lá momentos como o encontro e parceria de Coelho com o cantor e compositor baiano Raul Seixas (Lucci Ferreira), o quase suicídio que abre o filme, a aproximação com o satanismo e, claro, o percurso pelo famoso Caminho de Santiago de Compostela. Todos esses fatos estão ali acenando para o espectador para mostrar que existem, porém soam como figuras meramente ilustrativas. 

Certamente que na seara das cinebiografias é preciso lidar com a dificuldade de manejar esses elementos, o que não acontece aqui. O roteiro é primário em não só não conseguir amarrar as coisas, como falta originalidade nas próprias falas dos personagens, são clichês, sem apuro. Um filme que pareceu embarcar de cabeça nas viagens tresloucadas de seu biografado.


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