sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Festival de Brasília – Parte I



Um Filme de Cinema (Idem, Brasil, 2015)
Dir: Walter Carvalho


O Festival de Brasília abriu sua programação lançando para o espectador uma série de reflexões sobre o próprio fazer cinematográfico. Um Filme de Cinema é mais uma incursão do grande diretor de fotografia Walter Carvalho pelas veredas da direção, embora o filme se sustente muito pelos depoimentos de muita gente boa do meio cinematográfico, brasileiro e internacional.

De Jia Zhang-ke a Lucrécia Martel, de Júlio Bressane a Béla Tarr, de José Padilha a Andrzej Wajda. Todos eles falam de sua relação com a sétima arte e buscam desmontar certos artifícios que utilizam na sua profissão, naquilo que acabam transformando em linguagem e meio de expressão artística e também como pensamento autoral.

Muito se discutiu aqui se o filme possui um caráter didático ou não, por se mostrar um registro que, de antemão, parece interessar mais aqueles que são próximos do universo cinematográfico. Claramente que o filme é muito rico para quem estuda e quer saber mais de cinema, mas está longe de normatizações, longe de se parecer uma cartilha com instruções particulares de como fazer um filme.

Ao contrário, são tantas as ideias, percepções e opiniões expostas ali que o filme torna-se um campo fértil para reflexão e debate, principalmente quando há contradições entre as falas dos entrevistados. José Padilha, por exemplo, fala do ponto de vista de um cineasta que está mais próximo da narrativa clássica, do mainstream, enquanto Béla Tarr está em outro polo de construção autoral, e Júlio Bressane evoca toda sua veia erudita.

Daí que se o didático tem a ver com aprendizado, Um Filme de Cinema é uma das mais belas e instigantes exposições sobre o tema. Por outro lado, como ritmo, a narrativa repete-se em muitos momentos, o que revela certo preciosismo por alguns depoimentos que acabam sobrando diante do todo.  

Walter Carvalho, como diretor, também compõe algumas cenas que evocam certa louvação da sala de cinema enquanto templo. O filme começa com imagens de um cinema em ruínas no sertão da Paraíba, mas que recebe a projeção de um antigo experimento de imagens em movimento – são as fotos sequenciadas de Eadweard Muybridge para provar que os cavalos tiravam as patas do chão quando corriam, considerado esse um dos precursores do registro cinematográfico. O público é composto de velhinhos da região  sendo a grande maioria dos cineastas também mais experientes. É como se o cinema brotasse dos escombros, ainda vivo, como técnica, mas permeado pela linguagem. É dessa crença que também se faz esse filme.

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