A
Noite Escura da Alma (Idem, Brasil, 2015)
Dir:
Henrique Dantas
Se
o tema Ditadura Militar já foi vista em alguns filmes da safra recente
brasileira, o retrato de uma Bahia nos tempos de regime é raramente mostrado em
tela. Noite Escura da Alma tenta preencher
essa lacuna com um retrato duro, mas necessário desse período da História
baiana. Também propõe uma construção narrativa que envolve depoimentos
documentais com performances experimentais. O resultado é uma experiência forte
como panorama histórico, ainda que um tanto questionável como proposição
estética.
O
diretor já havia realizado outros trabalhos que envolviam os desmandos cruéis da
Ditadura, mas de forma localizada. Obras como Ser Tão Cinzento e Sinais de
Cinza – A Peleja de Olney Contra o Dragão da Maldade mostram como o governo
ditatorial perseguiu o cineasta Olney São Paulo.
Agora,
Dantas expande seu olhar para toda uma cena de militância e pelas ações cruéis do
regime militar na Bahia. Entrevista uma série de pessoas que viveram aquele
período e guardam memórias duríssimas do tempo de militância e das atrocidades que
eram cometidas contra os presos políticos.
De
pessoas conhecidas, como o sociólogo Juca Ferreira, até a cineasta Lúcia Murat,
passando por um conjunto de pessoas de esferas diferentes da sociedade, o filme
constrói um painel rico que dá conta de mapear certas atividades não só da
militância baiana contra a Ditadura, mas da própria repressão do Estado.
Além
da força dos depoimentos, muitos deles praticamente inéditos no cenário
histórico, uma das estratégias do filme é lançar mão de performances subjetivas
que simulam experiências abstratas como o silêncio, o medo ou o destemor. De
formação como artista plástico, Dantas traz para o seu filme uma construção
visual experimental quer tenta dar conta da dimensão emocional e psicológica daqueles
episódios de violência e barbárie. Em algumas dessas cenas, esse tipo de
dispositivo narrativo acaba por simplesmente comentar como imagem e som aquilo
que está sendo dito, o eu torna a experiência redundante.
Todo filmado à noite,
no Forte do Barbalho, lugar que funcionou como porão e cárcere dos presos
políticos em Salvador, A Noite Escura da
Alma assume desde o início a atmosfera sombria e pesada que o tema exige. É
o tom ideal para contar uma faceta de uma história pouco contada, justo quando,
nos tempos atuais de grande comoção política, ela precise
sair das sombras.
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